26 junho 2010

Carlos Drummond de Andrade


Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

SONETOS DE VINICIUS......


Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Vinicius de Moraes



Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Vinicius de Moraes







Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Moraes


23 junho 2010

Exposição no MASP

FRANCISCO STOCKINGER
Período:
De 2 de junho a 22 de agosto de 2010
STOCKINGER - O DESCANSO DO GUERREIRO,
em cartaz de 2 de junho a 22 de agosto no MASP - Galeria Clemente de Faria


Exposição traz uma retrospectiva crítica do artista brasileiro de origem austríaca, morto no ano passado aos 89 anos. São 67 obras ao todo, entre esculturas de médio e grande porte, objetos utilitários, xilogravuras e desenhos - inclusive um retrato do artista feito por Flávio de Carvalho. Mostra tem concepção e coordenação geral de Fábio Coutinho, curadoria de Maria Alice Milliet e vai ocupar a Galeria Clemente Faria, o Mezanino e o Hall Cívico do MASP, a partir de 2 de junho.



MAX ERNST - UMA SEMANA DE BONDADE -
exposição inédita na América com as 184 colagens criadas pelo artista em 1933.



MAX ERNST
UMA SEMANA DE BONDADE
Período:
23 de abril a 18 de julho de 2010

Sensação na Europa em 2008 e 2009, Max Ernst - Uma Semana de Bondade inicia em 23 de abril no MASP sua itinerância pela América. Conservada por mais de 70 anos pelo colecionador francês Daniel Fillipacchi, coleção completa do Gênesis de Ernst traz 184 colagens, cinco delas não exibidas sob alegação de blasfêmia em exposição realizada em Madri, em 1936 - a primeira e única a atual turnê. Nas imagens, a crítica cáustica e surrealista às convenções sociais da Europa do período entre guerras.


SAIBA MAIS




ROMANTISMO: A ARTE DO ENTUSIASMO


Rosas num Copo, Jean-Baptiste-Camille Corot, é uma das obras do acervo MASP na exposição Romantismo, a Arte do Entusiasmo, em cartaz a partir de 05/02








Obras de Bosch, El Greco, Monet, Renoir, Van Gogh, Dalí, León Ferrari, Tomie Ohtake e dezenas de outros mostram que os ideais do Romantismo - movimento identificado entre meados dos séculos XVIII e XIX - permeiam a arte produzida nos últimos 500 anos no Ocidente.


22 junho 2010

Picasso o gênio e suas surpresas

NOVA YORK - O artista do século 20 mais discutido, criador de produção superabundante e de algumas das obras mais caras do mundo, Picasso (1881-1973) também é o artista mais exibido do planeta. Este ano há pelo menos 30 grandes mostras dele, várias concomitantes, em cidades como Amsterdã, Atenas, Berna, Istambul, Londres, Moscou, Taipei e Viena. Sem falar nas que estão pela Espanha, onde nasceu, e França, onde passou quase toda a vida. Nova York tem duas: Picasso in The Metropolitan Museum of Art, aberta até 1.º de agosto, e Picasso: Themes and Variations, em exibição no MoMA até 6 de setembro. Com quase 300 peças, a mostra no Met focaliza só obras do acervo do museu, que está exibindo de uma só vez todos os seus Picassos.

O ator. Sob a figura rosa havia uma composição de paisagem

Picasso in The Metropolitan toma nove galerias e faz um panorama da carreira e dos estilos do artista que, embora seja um dos mais estudados, ainda causa surpresas. Em exames feitos nas telas da coleção permanente, o Met fez várias descobertas, reveladas em vídeos na mostra. E, entre várias obras célebres exibidas antes, o museu incluiu La Douleur (A Dor), com cena erótica criada em 1902 ou 1903, nunca saído do depósito desde que doado ao museu em 1982.

Havia dúvidas sobre a autenticidade da obra mas, além da confirmação de ser um Picasso verdadeiro, os pesquisadores traçaram toda a história de propriedade dele, desde 1912, quando foi vendido pelo alfaiate Benet Soler, que fazia roupas para o pintor em Barcelona. Pode ser que Picasso, para manter a elegância mesmo sem dinheiro, tenha feito escambo entre o quadro e um par de calças ou um terno.

O suicídio do amigo Carles Casagemas teria originado o melancólico Período Azul de Picasso, lembrado na segunda galeria. Esta começa com dez caricaturas de 1900 de amigos que frequentavam com ele o café El Quatre Gats, em Barcelona (onde, naquele ano, expôs 150 desenhos). Os desenhos seguem o estilo na época conhecido como modernista e são assinados por P. Ruiz Picasso.

No fim de 1901, nota-se que as cores do período dos cafés dão lugar a uma palheta de azuis e ocres, como em O Desjejum do Cego (1903). Sob essa figura, outra descoberta: o homem foi pintado em cima da composição de uma mulher, da qual havia fotos, mas não se sabia onde estava até os exames feitos pelo museu.

Em 1904, Picasso fixou-se em Paris e conheceu a modelo Fernande Olivier, sua companheira até 1913, vivendo com ele os anos de pobreza do Período Rosa e do início cubista. Na primeira fase, as figuras dilapidadas e azuladas dão lugar a saltimbancos ou artistas de rua, seus temas básicos nos dois primeiros anos. Aponta-se como marco inaugural do Período Rosa O Ator (1905), que em janeiro, sofreu um rombo na parte direita inferior quando uma visitante do museu caiu sobre ele.

Restaurado e sem marcas visíveis, ele esconde a dureza financeira do jovem espanhol tentando se estabelecer como pintor em Paris. Picasso usava telas baratas e muitas vezes, reaproveitava as que ganhava de outros pintores. Os exames do Met mostram que, sob a figura esguia e rósea, havia uma composição horizontal de paisagem com uma figura humana. Picasso inverteu a posição da tela e expungiu a imagem original com grandes pinceladas de azul, cinza e vermelho. O período que começa com O Ator termina com a primeira pintura dele a entrar para a coleção do museu, o retrato da escritora Gertrude Stein, pintado em 1906 e doado ao Met pela retratada, em 1946.

Na quarta galeria, a jornada de Picasso vai de 1906 a 1915, anos em que ele e o amigo Georges Braque inventaram o cubismo e mudaram o curso da arte do século 20. No centro está a escultura de bronze Cabeça de Mulher (1909), que teve Fernande como modelo, é considerada a primeira escultura cubista e ponto-chave na formulação da linguagem pictórica do cubismo. Na época em que foi produzida, ela era chamada de "a cabeça quebrada", por causa dos ângulos que a formam.

As duas décadas seguintes da carreira se desdobram na quinta galeria, que começa com trabalhos criados a partir do fim da 1.ª Guerra. Surgem crianças nos quadros a partir do nascimento de seu primeiro filho, Paulo. A desintegração do casamento com a bailarina Olga Kokhlova é óbvia nos retratos em que a mostra como figura surrealista e castradora. Depois entram em cena as amantes Marie-Thérèse Walter e a fotógrafa Dora Maar, no fim dso anos 30. Da fase com Marie-Thérèse, o Met exibe A Sonhadora (1932), da mesma leva do valiosíssimo Nu, Folhas Verdes e Busto - ambos da série de grandes retratos feitos para a primeira retrospectiva do pintor em Paris, em junho de 32.

A coleção do Met, formada quase toda por doações, é menos favorecida em pinturas e desenhos produzidos por Picasso após a 2ª Guerra, mas é rica em trabalhos gráficos, principalmente em impressões sobre linóleo, mídia para a qual desenvolveu novas técnicas. A última galeria traz 30 impressões da Suíte 347, série de 347 gravuras feitas por Picasso aos 87 anos, que definem a produção dele: abundante e genial até o fim.



Fonte: Estadão

Auguste Rodin

O luar